quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

In the beginning, there was a light. (2012)

Sempre que faço uma viagem, por mais curta que esta seja, passo cerca de 40% do tempo calada, presa em meus próprios pensamentos, e vezenquando devaneando sobre o que fiz, o que farei e o que poderia (ou não) ter feito para as coisas estarem assim. Muito me remete a você. A nós. E a tudo o que nos ocorreu.

Não existem palavras que descrevam o amaríssimo sabor do arrependimento. Pior que isso, é se arrepender de algo que você fez com plena consciência. Por exemplo, a pena é maior para um assassino que comete um homicídio doloso do que um homicídio culposo. A própria justiça se encarrega em equilibrar as balanças e dividir os pesos. Quando estamos cientes do mal que estamos fazendo, não nos reconhecemos. Tememos, até, estarmos loucos. Até que ponto somos capaz para dizer de outra forma além das palavras que você precisa dela?

O ser humano é, por si só, uma maquinaria muitíssimo complexa. Desconhecemos nossos próprios limites, a ponto de duvidarmos de nossa sanidade. Atitudes exageradas e reações urgentes resultam em decisões desesperadoras. Acabamos fazendo a última coisa que queremos, simplesmente para chamar a atenção. Somos dramáticos. Somos carentes. Somos humanos demais, como já dissera Nietzsche. E somos culpados.

Infelizmente, não podemos voltar ao tempo e consertar nossos erros. Se assim fosse, não teríamos problemas. Mas nunca nos disseram que a vida seria fácil (nem tampouco tão difícil assim). Portanto, quando erramos, somos (ou não) agraciados com um dos mais nobres presentes que o coração humano é capaz de dar: o perdão.

Conquistar o perdão não é fácil, embora a pessoa tenha o coração puro e entenda que erros ocorrem. Mas da mesma forma que um presente precise de fitas e embrulhos para ser "completo" aos olhos da sociedade, o perdão só é sentido de verdade quando os acontecimentos passados são esquecidos, e, a partir disto, pode-se escrever uma nova história ao lado de quem já fizemos sofrer outrora. É, também, uma oportunidade de dizer: "Deixe-me tentar de novo. Deixe-me provar que não sou (mais) aquela pessoa. Deixe-me provar que estou arrependida. Deixe-me provar que a amo. Deixe-me provar que nunca, nunca mais a farei sofrer novamente. Mas, deixe-me.".

Sim, eu sei que o "simples" (que de "simples" não tem nada) perdoar já é um ato de muita coragem e dignidade (e por que não respeito para com o ser perdoado?), mas o perdão é repleto quando há a aceitação. Quando se pode segurar na mão da outra pessoa e arriscar confiar novamente. É o chamado "dar a cara a tapa". É arriscar de novo, e de novo, porque seu coração insiste que valerá a pena, embora sua mente torça o nariz para a ideia. É seguir seus próprios instintos, mesmo sabendo que poderá se machucar - pela milionésima vez.

Como já disse, seres humanos são complicados. Nossos órgãos falam e pensam por si só, e o resultado deles é o que achamos de verdade. Nosso coração pondera, o cérebro nega, as lembranças fazem sorrir e chorar e você se encontra à beira de um pedestal, onde não sabe se, ao pular, alguém estará lá para te segurar, ou se levará as fuças ao chão. Como saber? E se, de repente, ganharmos asas? E se andarmos pelas nuvens? E se um lindo e colorido paraquedas abrir em nossas mochilas?

Sei que o trauma nos leva a pensar que o pior poderá acontecer sempre, principalmente quando não é a primeira vez. Mas o que nos move na vida, senão os desafios? É preciso arriscar, apostar alto e dizer "sim" mais vezes para a vida. Mesmo que caiamos, mesmo que dos machuquemos, mesmo que terminemos de braços e pernas quebradas, melhor será a sensação de "matei a minha vontade" do que a agonia do "o que poderia ter acontecido se eu tivesse arriscado?".

Ainda assim, quando o perdão vem acompanhado da chance de recomeçar, devemos ser cautelosos. Comparo a situação como uma construção. Temos uma casa, mas uma forte tempestade a colocou a baixo. Deve-se, então, recomeçar. Compram-se os sacos de cimento, cal, tijolos, tintas e tudo mais o que for preciso. Depois, instala-se o encanamento. Daí, a energia. Retoca-se a casa. Contrata-se um arquiteto para que ponha tudo no lugar ao gosto do freguês. Limpa-se a sujeira. Enfim, volta-se a morar naquele lugar.

O tempo faz questão de provar sua sabedoria nos momentos em que menos esperamos. Só depois do tempo certo, pensamos e repensamos, até chegarmos a uma conclusão. E minha promessa da semana passada ainda está de pé, e sempre estará. E tentarei provar isso sempre que puder. Se possível for, mostro e demonstro o quanto estou disposta. E o quanto a quero feliz. E perto de mim.